A expressão agressiva na adolescência

A adolescência representa um importante período de desenvolvimento, pois é nele que são efetuadas várias escolhas com impacto perdurante na vida dos indivíduos. Como refere a literatura, este é um período onde se estabelece a identidade do sujeito, sendo também considerado como um período de passagem entre a infância e a idade adulta que implica um importante reajuste do individuo (Erikson, 1976; Bohosavsky, 1977).

Freud (1917) referia-se à adolescência como um ponto traumático, onde o jovem sente necessidade de fugir à influência parental. É claro que a adolescência é um período onde o adolescente sente necessidade de se encontrar a si mesmo através do distanciamento dos laços paternos.

Sprinthal & Collins (1994) infirmavam que muitos problemas associados ao período da adolescência surgem como forma de adaptação do adolescente aos novos desafios que se colocam perante si, é um período confuso ao nível dos sentimentos contraditórios, ansiedade, felicidade e tristeza e é nesse período que poderá surgir a agressividade ou o comportamento agressivo.

O comportamento agressivo constitui-se por uma série de atitudes sociais inábeis. A expressão agressiva e intensa na infância e na adolescência representam inúmeras consequências desfavoráveis a curto, médio e longo prazo. Desta forma, pretendemos com este pequeno artigo, perceber o que estudos/literatura nos diz face a este tema.

Ao longo da primeira etapa da vida da criança, deparamo-nos com dois diferentes comportamentos agressivos – adaptativo e a conduta agressiva com intencionalidade.

Se por um lado o comportamento adaptativo poderá ser entendido como uma forma de pedir limites para obter segurança/conforto e estabilidade, por outro lado, a mudança surge quando essa atitude agressiva se torna uma ferramenta que levará a atingir todos os seus desejos. Neste momento estaremos perante uma fonte de frustrações, problemas de comunicação e relação social, interferindo com a forma inadequada de integração, contribuindo assim para os danos escolares e nalguns casos na conduta antissocial, que se pode desenvolver na adolescência.  

A formação desse comportamento agressivo parece ocorrer de forma semelhante ao desenvolvimento socio-emocional e possui origem multifatorial. Reconhecer a forma como cada um desses fatores interfere na formação e manutenção da agressividade propicia a intervenção e prevenção de formas adequadas, evitando danos sociais que este comportamento pode originar.

A teoria da aprendizagem social defende que as condutas agressivas adquirem-se por imitação dos modelos que as crianças têm à sua disposição desde o nascimento – os pais e o seu ambiente social. Com base nesta teoria, inferimos que a criança pode comportar-se e relacionar-se com os outros da mesma maneira que os seus pais o fazem, criando modelos de comunicação e de relação com base nos modelos que lhe são transmitidos.

Estudos revelam que a presença de patologias psicológicas parece estar diretamente ligado à existência de manifestações agressivas – não obstante estarmos numa fase de desenvolvimento do aparelho psíquico do individuo e que por este motivo, a existência de dados patológicos vs desenvolvimento emocional interagem reciprocamente. Desta forma, cabe ao profissional levar em consideração todos estes aspetos para o delineamento da sua intervenção.

O comportamento agressivo na adolescência está presente em diversos contextos sociais, um deles é na escola – local onde o jovem passa mais tempo. A literatura também nos diz, que este fator está intimamente ligado ás relações estabelecidas, e que as mesmas são determinantes nas condutas sociais desenvolvidas pelos jovens. Quando detetado o problema, o mesmo deve ser partilhado em casa e na escola, de forma a conseguir-se eliminar a conduta inadaptada e criar novas estratégias para uma conduta social aceite e adaptativa ao meio. É importante reter que o jovem tenta obter o controlo do seu meio através de comportamento agressivo.

Perante o exposto é necessário entender as causas do comportamento agressivo, fazê-lo através da aproximação e do diálogo, estabelecendo limites e apresentar que existem outras formas de expressar a sua insatisfação ou problema.

Estudos revelam que há relação entre práticas parentais e agressividade – que as práticas potencialmente maltratantes e os maus tratos emocionais de ambos os progenitores estão positivamente correlacionadas com a agressividade física dos adolescentes. Esta ideia vai de encontro com ideia de que práticas mais negativas são, de facto, apontadas como potenciadoras de comportamentos mais agressivos nos adolescentes. 

A falta de limites será um dos fatores que pode desencadear comportamento agressivo – se o jovem perceber que não há consequências para o seu comportamento agressivo, tenderá a replicá-lo sempre que necessitar e usará este meio como veículo nas suas relações sociais.

É importante criar relações seguras e securizantes com o adolescente. Desta forma sugere-se aos pais que procurem conversar e interessar-se pelo seu universo e relações, mantendo um bom canal de diálogo e confiança, para receber as suas opiniões e queixas. Ajudá-lo a refletir sobre a eficácia e as consequências das suas atitudes agressivas, mostrando que há outras maneiras para expressar e resolver os seus conflitos, será o início da mudança de comportamento e prevenção de danos futuros.

Em suma, e apesar de não se poder generalizar, importa salientar que existe práticas inadequadas e maltratantes parecem estar associadas a uma maior agressividade nos adolescentes, enquanto que práticas adequadas associam-se a uma menor agressividade. Esta ideia corrobora com o clássico Patterson e Reid (1973) práticas mais positivas conduzem a níveis de agressividade mais reduzidos nos adolescentes.

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