DESMISTIFICAR O SUICÍDIO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o suicídio como “um ato de pôr termo à própria vida, que foi deliberadamente iniciado e preparado, com o prévio conhecimento do seu resultado final” (OMS, 1984). É um grave problema de saúde pública, com cerca de 800 mil a um milhão de mortes anuais, sendo a segunda causa de morte entre os 15 e os 34 anos. 

A prevenção do suicídio é possível, através da consciencialização da população e redução do estigma, que é a principal barreira para a procura de ajuda. De facto, algumas pessoas, em parte por influência cultural, ainda veem o suicídio o suicídio como um pecado, egoísmo ou fraqueza.

O estigma assenta também em vários mitos ou crenças pré-concebidas, que pretendemos desconstruir neste texto:

  • Só fala sobre suicídio quem tenta chamar a atenção, e é pouco provável que o faça.

Na verdade, mais de dois terços das pessoas que cometem suicídio expressam a sua ideação suicida e pelo menos um terço verbaliza a intenção em cometer suicídio. Falar sobre o suicídio pode ser um pedido de ajuda, que pode ter consequências perigosas se considerado chamada de atenção.

  • Quem contempla ou concretiza o suicidio é egoísta ou incapaz.

A maioria das pessoas que comete suicídio (cerca de 90%) tem uma perturbação mental no momento da sua morte. 

  • O risco de suicídio consumado diminui após uma tentativa de suicídio falhada. 

As tentativas de suicídio prévias são um fator de risco importante para a morte por suicídio. 

  • Falar sobre suicídio com alguém em risco pode levá-lo ao suicídio.

Apesar de poder ser desconfortável falar acerca do suicídio e o outro se possa sentir impotente, muitas pessoas com depressão e ideação suicida sentem-se aliviadas quando conversam sobre isso. 

De que maneira se pode falar sobre o suicídio com alguém que expresse essa ideia? Em primeiro lugar, é importante ouvir de forma empática, amigável e não ameaçadora, sem fazer juízos de valor. Podem ser feitas perguntas abertas, permitindo que os sentimentos sejam expressos livremente. Deve ser evitado ao máximo qualquer desvalorização do que nos é dito, sem conselhos “de algibeira”. Em vez da procura de soluções para os problemas que possam ser relatados, deve sim incentivar-se a pessoa a procurar ajuda de um profissional de saúde. É natural que exista desesperança quando se contempla o suicídio, pelo que quando se tenta ajudar alguém com estas ideias é comum ter de se insistir para que procure ajuda, ou até ser necessário envolver familiares ou outras pessoas próximas. 

Todos podemos fazer algo para ajudar a evitar o suicídio, não só de forma direta, mas também alterando a nossa mentalidade e preconceito com conhecimento. Numa sociedade mais compassiva e informada, existe maior abertura para pedir ajuda.

Beatriz Côrte-Real – Médica de Psiquiatria Mental8Works

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