Uma Saúde Mental para todos e de todos

Uma Saúde Mental para todos é talvez o desafio último das sociedades contemporâneas. É tarefa por cumprir, mas não é tarefa abstrata, nem tão pouco exclusiva dos sectores social ou da saúde, é antes sim tarefa concreta das comunidades e dos indivíduos.

Recentemente um conjunto de literatura científica tem questionado o modelo atual de cuidados assistenciais, excessivamente sofisticado e direcionado para a prestação de cuidados especializados para perturbações psiquiátricas. Este modelo não só se tem revelado, com frequência, insuficiente para responder a esse objetivo (a capacidade de resposta anual dos serviços de saúde mental situa-se nos 4 a 6% do sofrimento mental diagnosticável, quando a prevalência anual deste sofrimento é de cerca de 20%), como também, não tem conseguido captar uma percentagem francamente superior de sofrimento psíquico que não nos chega sob a forma de perturbações psiquiátricas claramente definidas (van Os, J. 2019) (Patel, V. 2018).

Tem sido igualmente criticada, a pouca valorização que tem sido dada a outros componentes subjetivos contextuais como ao papel da expetativa e da relação terapêutica na prestação de cuidados no âmbito da saúde mental. Esta crítica ganha mais força quando está hoje perfeitamente documentado que tratamentos de ênfase mais relacional apresentam objetivamente melhores resultados, sobretudo no setting da saúde mental quando comparadas com as outras áreas da saúde.

É assim tempo de pensarmos numa ótica diferente. Os cuidados de saúde mental do futuro passarão por unidades de pequena escala, fortemente implantados na comunidade, atentos às necessidades e ao sofrimento específico dos indivíduos de cada comunidade e potenciadores dos laços e das sinergias previamente existentes.

Como profissionais de saúde somos igualmente interpelados ao encontro com o outro, ao treino da escuta, ao aprofundamento da relação terapêutica e ao desenho de projetos terapêuticos que tenham como objetivo não só o alívio do sofrimento psíquico, mas que visem também a promoção da resiliência, do recovery existencial e valorizem a participação do indivíduo na sociedade. Somos igualmente impelidos a sair das portas invisíveis das instituições, a formar leigos e a comprometer os cidadãos com a sua saúde mental.

Os cidadãos passam assim a ser chamados a participar nos processos de promoção da sua própria saúde, através da promoção de hábitos de vida saudáveis, do desenvolvimento de ferramentas e de espaços de autoajuda e da identificação e sinalização mais precoce de pessoas em situação de sofrimento psíquico nas suas comunidades.

A Mental8Works posiciona-se assim como uma associação de proximidade, francamente implantada na comunidade, particularmente orientada para o sofrimento psíquico e as suas diferentes expressões e para a sua abordagem interdisciplinar. Os técnicos que a integram estão atentos à relação terapêutica e comprometidos com o seu papel pedagógico na sociedade.

Pedro Câmara Pestana – Médico Psiquiatra

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