Empatia, emoções e conflito

A empatia e as emoções andam de mãos dadas. Ser empático significa experienciar emoções desencadeadas pela experiência do outro ou com o outro. Contudo, são múltiplos os contextos e as relações fugazes do quotidiano em que somos simpáticos, mas não empáticos. A empatia requer tempo, requer presença. Para empatizar é preciso estar, disponibilizando-nos a descodificar informação proveniente da comunicação verbal e não verbal.

Ora, no dia-a-dia apressado e repleto de interações superficiais, nem sempre existem recursos para a empatia e para o processamento emocional. Somos, muitas vezes, levados a interagir de forma superficial e funcional com aqueles que nos rodeiam no trabalho, ou com as pessoas que nos atendem nos vários serviços a que recorremos. Somos simpáticos, não verdadeiramente empáticos. E, até certo ponto, isso é normal e saudável. Isto é, não nos relacionamos de forma profunda com todas as pessoas, nem tampouco todas elas desempenham o mesmo papel na nossa vida. Mas é importante monitorizar a qualidade das relações verdadeiramente empáticas de que dispomos, das ligações profundas que criamos, bem como o grau de investimento que estamos a reservar para a construção dessas ligações.

Todos necessitamos de relações em que nos permitimos estar vulneráveis emocionalmente, e simultaneamente permitimos ao outro essa vulnerabilidade, dandolhe espaço. O mesmo se aplica a experiências altamente positivas partilhadas. É este o equilíbrio saudável: por um lado, é normal que não nos entreguemos da mesma forma a todas as pessoas, nem o façamos em contextos de desproteção ou grande insegurança; por outro lado, devemos garantir que guardamos espaço no nosso quotidiano para relacionamentos que saem do espetro da superficialidade e funcionalidade.

Sair da zona de conforto é importante, mas devemos fazê-lo com o mínimo de condições de segurança e conforto para nós próprios. Para algumas pessoas, essas condições podem surgir sob a forma de uma interação individualizada com uma pessoa próxima ou, por exemplo, no consultório com o psicólogo. Para outras, poderá ser mais confortável participar em grupos de suporte, como grupos mais alargados de amigos ou interações no seio familiar. Neste último contexto de interação grupal, darei como exemplo a minha recente experiência numa formação sobre gestão de conflitos na qual participei.

Ao abrigo do programa Erasmus+, e a convite da cooperativa de educação não formal Ha Moment, parceira da Mental8Works, estive em formação no Chipre com um grupo de participantes oriundos de vários países da Europa, bem como da Síria e da Jordânia. Durante o dia, participávamos em várias atividades de grupo relacionadas com a análise e a transformação de conflitos. Num dos dias, especialmente reservado ao tema da empatia, realizámos um exercício peculiar: deveríamos percorrer a sala, caminhando sem rumo definido, e parar ao encontrar uma pessoa disponível. Depois, sem qualquer comunicação verbal, deveríamos olhá-la nos olhos durante alguns minutos.

O sentimento de desconforto, a princípio, foi transversal. Não estamos acostumados a este tipo de intimidade, especialmente com pessoas que não conhecemos bem. Assim, olhar diretamente nos olhos de outra pessoa gera um sentimento de intrusão, tanto em nós como no outro. Contudo, ao permitirmo-nos manter o contacto, após os primeiros instantes em que, em circunstâncias normais, já teríamos desviado o olhar, surge um sentimento de partilha dessa vulnerabilidade, desse desconforto. Algumas pessoas sentiram-se confortáveis o suficiente para chorar, como se a disponibilidade total do outro tivesse aberto a porta à experiência de uma emocionalidade latente. Outras, ainda, deram as mãos ou abraçaram-se.

Este exercício, altamente ativador, é um bom exemplo de como a empatia requer disponibilidade e presença. A experiência não foi necessariamente agradável para todos, tal como nem todas as nossas emoções são agradáveis. No entanto, todas elas existem por alguma razão e todas desempenham uma função específica. É quando nos sentimos ligados, acolhidos, que nos permitimos experienciar mesmo essas emoções mais desagradáveis que tantas vezes, de forma mais ou menos consciente, acabamos por guardar dentro de nós.

Precisamos de processar as nossas emoções, ao invés de ignorá-las. Devemos fazê-lo num contexto seguro, claro, como o contexto de grupo deste exemplo. Só assim podemos construir algo a partir dessa experiência. E passamos a aceitar que sentimos porque é suposto sentirmos. E essa aceitação das vulnerabilidades próprias e dos outros tem o potencial de reduzir tanto o conflito interno como externo.

Na Mental8Works proporcionamos um outro tipo de contexto seguro para o processamento e o autoconhecimento emocional: as consultas de Psicologia Clínica. Nem sempre é fácil passar da teoria à prática, pelo que desenvolver estas competências em colaboração com um profissional pode ser uma grande ajuda.

António Farinha Fernandes – Psicólogo Júnior da Mental8Works

Texto redigido como tarefa follow-up do training course One Last Chance – Eris Apple for Conflict Resolution. O Dr. António Farinha Fernandes e a Mental8Works agradecem à Ha Moment a oportunidade formativa.

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