Terapias cognitivo-comportamentais: de onde vêm e para onde vão?

As terapias cognitivo-comportamentais são reconhecidas pela comunidade científica e clínica devido à sua eficácia na redução de sintomas ligados, entre outros, à ansiedade e à depressão. Este modelo de terapia tem vindo a ser continuamente estudado e aprimorado, facto observável através da enorme quantidade de artigos científicos existentes acerca do tema. Este ímpeto científico é exemplo da necessidade de atualização constante das práticas clínicas, no sentido de adaptá-las às exigências dos diversos quadros e problemáticas dos pacientes que, devido à sua natureza psíquica, se revelam infinitamente complexas. Assim, as terapias cognitivo-comportamentais são muito mais hoje do que aquilo que eram quando surgiram. No entanto, tudo leva a crer que a sua evolução ainda não esteja completa. Para compreender melhor este tema, será útil abordar a forma como surgiu e como se desenvolveu esta abordagem ao longo dos anos.

Tal como o próprio nome indica, as terapias cognitivo-comportamentais surgiram de uma integração bem sucedida dos modelos comportamentais e dos modelos cognitivos. Os primeiros baseiam-se, originalmente, em princípios da aprendizagem, como os processos de condicionamento (associação de estímulos a respostas que se tornam progressivamente mais automatizadas) ou os processos de modelagem (aprendizagem e repetição de comportamentos observados num modelo). Aos aspetos do comportamento observável propostos por estes modelos, aliaram-se novos pressupostos teóricos dos modelos cognitivos. Isto é, os modelos que se debruçam sobre os processos de processamento mental da informação e as distorções do mesmo que podem gerar mal-estar, tais como a generalização ou a catastrofização. Este foi um processo eficaz de integração de duas abordagens, que acaba por beneficiar o trabalho terapêutico por não reduzir a realidade de cada pessoa apenas ao seu comportamento, ou apenas aos seus processos cognitivos. No entanto, a complexidade do funcionamento humano levou à necessidade de estudar e integrar clinicamente outras componentes. As terapias cognitivo-comportamentais foram evoluindo, no sentido de incluir componentes de trabalho que se configuravam como relevantes para uma mudança abrangente (por exemplo, a tolerância à frustração, a regulação emocional, a eficácia interpessoal, ou o mindfulness).

Esta integração de diferentes técnicas terapêuticas e focos de mudança, consoante o trabalho mais urgente em terapia, parece ser a tendência de desenvolvimento desta e de outras abordagens clínicas. Além disso, um foco único na redução sintomática através de técnicas exclusivamente cognitivo-comportamentais – ou exclusivamente psicofarmacológicas – poderá ser insuficiente para promover uma mudança duradoura. Embora, muitas vezes, seja urgente reduzir determinados sintomas para que a pessoa esteja disponível para fazer outro tipo de trabalho (como o da promoção do insight acerca da origem do seu funcionamento psicológico), ignorar essa possível necessidade poderá levar a uma consequente reincidência dos sintomas a médio- ou longo-prazo.

Atualmente, é cada vez mais evidente que os diversos modelos terapêuticos não valem por si só, mas pelo trabalho específico que cada um deles consegue promover em contexto clínico. É a pessoa, e as suas necessidades, que devem guiar a terapia. Nesse sentido, promover uma boa aliança terapêutica parece ser um fator preponderante na produção de resultados. Talvez a melhor forma de o fazer seja, justamente, adaptar o modelo terapêutico utilizado às necessidades mais urgentes dos indivíduos, ao invés de tentar impor-lhes técnicas específicas ou guiões pré-definidos de forma rígida.

Em suma, e respondendo à questão que dá título a este artigo, as terapias cognitivo-comportamentais surgiram da integração de diferentes abordagens teóricas e práticas à mudança psicológica. Essa integração e interligação de diferentes modelos poderá ser aquilo que mais beneficiará os pacientes e potenciará o seu bem-estar.

Na Mental8Works procuramos desenvolver um trabalho colaborativo na abordagem às questões da saúde mental. Promovemos a articulação dos serviços de psicologia e de psiquiatria, com técnicos de diferentes orientações teóricas e práticas que discutem entre si a realidade clínica de pontos de vista distintos, mas tantas vezes complementares e integráveis entre si.

António Farinha Fernandes – Psicólogo Júnior da Mental8Works

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