Dia da Mãe

Ser mãe foi, é e será sempre um enorme desafio. Nos dias que correm, onde as expectativas da sociedade sobre o que é ser-se sucedido são muito elevadas, o papel de mãe encontra-se revestido de uma enorme pressão. Mas afinal o que é ser-se sucedido neste terreno tão biológico, tão natural e tão pouco biológico e por vezes somente circunstancial que é o terreno da maternidade?
Proponho hoje, explorarmos nas palavras de Winnicott uma possível boa resposta a esta questão. Ser mãe é ser-se uma “mãe suficientemente boa”. E o que é uma “mãe suficientemente boa”? É aquela que não é perfeita, que erra, que tem dúvidas (não poucas) e que em cada etapa de desenvolvimento do seu filho, está lá, a olhá-lo, a admirá-lo, a protegê-lo, a aconchegá-lo, a questionar-se e a dar as respostas adequadas a cada necessidade que vai surgindo. E as necessidades vão muito além da alimentação e da higiene. Os filhos precisam de colo, de se sentirem seguros, amados e compreendidos. É, sem sombra de dúvida, nesta primeira relação que o bebé estabelece com a mãe, que começa a construção da identidade. A mãe é, nos primeiros anos de vida, o ambiente com o qual o bebé se relaciona e adquire algumas das funções fundamentais e necessárias para se tornar um adulto que é e que está com o mundo de forma saudável.
Winnicott dizia ainda uma coisa extraordinária, “não há criança sem mãe” e se assumirmos que não se criam nem educam crianças mas sim adultos, como será o adulto que cresceu sem mãe, sem nenhuma mãe porque não estamos aqui a falar necessariamente da mãe biológica. E haverá mãe sem bebé? Ser mãe é uma construção baseada na descoberta do seu filho. É esta descoberta, a criação deste “colo”, é este ambiente, esta “mãe suficientemente boa” que vai propiciar um processo de formação de um ser humano independente e autónomo. O que começa por ser vital vai-se desvanecendo com o tempo e possibilita o amadurecimento saudável.
Cada criança é uma e cada relação também. É necessário oferecer aos filhos um ambiente físico e psicológico suficientemente bom, capaz de propiciar esta relação única onde cada criança tem as suas necessidades e a sua mãe procurará dar a resposta adequada e saber reconfortá-lo. É por isso, que a mesma educação resulta, não raras vezes, em irmãos muito diferentes. Não existem duas relações iguais. Não se é a mesma mãe para um filho e para outro.
Numa sociedade onde a expectativa é dar bife do lombo, uma lata de atum também é um bom alimento, principalmente se for revestido de outros nutrientes que a criança também e essencialmente precisa de absorver, o afeto, a atenção e o colo securizante. Num espaço físico cheio de brinquedos o que se impõe é uma mãe para brincar, nem que seja com a bateria improvisada de uma lata de bolachas.
Neste dia, desejo a todas as mães um dia cheio de afeto e brincadeira, um dia livre de expectativas e de pressões, um dia da mãe.
PS: Por ser dia da mãe não falei do papel fundamental do pai, mas esse deixo para março.

Maria Sequeira – Vice-Presidente da Mental8Works

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